
projecto
Escola Superior Tecnologia e Gestão
Concurso em 2003. O volume paralelepipédico, com aberturas contidas, que ao branco dominante soma superfícies em preto, disfarça a sua escala na topografia, integrando-se na envolvente natural.
A Escola materializa-se num edifício com cerca de 11600 m2 de área de construção dividido em cinco blocos independentes. Os blocos edificados são formados por dois pisos situados acima da cota da soleira, e um terceiro parcialmente enterrado, sendo destinadas a cada piso funções programáticas idênticas: Piso 0 (áreas sociais e serviços de apoio); Piso 1 (salas de aula teóricas e práticas); Piso -1 (áreas laboratoriais, oficinas e armazéns).
Do conjunto de blocos, destaca-se o corpo A, um bloco com uma estrutura contínua de 80,90 m de comprimento, em betão armado pré-esforçado e que tem como principal característica ser realizada com um único pórtico com vão livre de 50,70m sobre a entrada da escola.
Evidenciando uma arquitectura de linhas direitas e ângulos rectos, os edifícios apresentam acabamentos de dotados de grande resistência como são os pavimentos em resina epoxy ou os paramentos verticais executados com rebocos estanhados revestidos com pinturas de resina epoxy e tinta de esmalte acrílico.
Orientado a sul, o edifício fica no topo do terreno, exercendo a sua influência arquitectónica sobre uma extensa área. Ao fundo, a densa mata forma um cenário natural. Subindo a comprida rampa, em betonilha clara, ladeada por espaços relvados, o volume paralelepipédico, que ao branco dominante soma superfícies em preto, revela as suas contidas aberturas geométricas. No piso superior, uma janela quadrada emoldura um vão revestido com centenas de pedras e um rasgo rectangular ilumina um dos pátios interiores. No térreo, recuado em relação ao primeiro andar, há uma sequência de figuras humanas recortadas nos painéis da entrada.
Reflectindo sobre o conceito de escola, "oque significa habitar intermitentemente uma construção dedicada ao pensamento?", Nuno Montenegro projectou o edifício com uma série de elementos que suscitam interrogações. As figuras humanas recortadas em paredes e portadas, que ora habitam os espaços, ora enquadram a natureza envolvente, as formas oculares nos balcões da entrada, a fórmula H2O gravada no tecto da sala de convívio e a sanca em lágrima na escadaria do piso inferior são os mais visíveis. O que representam? Mas há ainda outros elementos, que só os observadores mais perspicazes decifram: a pequena porta da entrada principal dá acesso a uma área com um pé-direito de 15 metros, os corrimãos são em escada, os vãos interiores repetem-se para anular as hierarquias espaciais adjacentes e as portas estreitas e altas no interior tornam-se largas e baixas no exterior. O que significam?
O desafio é lançado por elementos arquitectónicos, pretende-se que alunos, docentes e visitantes assumam uma postura crítica em relação ao próprio edifício, mas deve ser aplicado sobretudo no contexto académico. "O pressuposto é interrogar, para posteriormente procurar respostas e, finalmente, aprender com esse processo informal de obtenção e transformação da informação", explica o arquitecto. Já escrevia Honoré de Balzac, no século XIX, que "a chave de todas as ciências é, inegavelmente, o ponto de interrogação". O projecto responde, deste modo, ao novo paradigma universitário, herdeiro de Bolonha, que concede ao aluno um papel mais interventivo e autónomo.
Fotografias da autoria de Fernando Guerra FG + SG